
Arte e identidade
Thiago Vaz é um artista inquiridor, extremamente atento a tudo que o cerca. Recordo-me de vários diálogos que tivemos sobre arte pública e traduzo aqui, em palavras minhas, o que entendo ser o eixo de suas reflexões: como desenvolver um processo orgânico de trabalho, coerente com o tempo e o lugar?
Entre outras questões essenciais ao fazer artístico, Thiago é particularmente sensível a temas referentes à identidade cultural. Mas na contemporaneidade, os limites entre cultura local e global vão se tornando mais e mais fugidios, convertendo esse num dos temas mais espinhosos e complexos da atualidade. A tecnologia que nos conecta, multiplicando redes de informação, tende a derrubar muitas fronteiras, criando novos laços e referências – fragilizando, por vezes, vínculos de pertencimento com o entorno imediato. Mas a inegável tendência a uma certa homogeneização comportamental, que testemunhamos em nossa era, não elimina diferenças culturais mais profundas entre contextos locais. A diversidade persiste, como fator de enriquecimento da vida humana.
Ser permeável à informação que nos vem de fora, sem perder de vista nossa singularidade: eis um desafio que só faz crescer, neste início de milênio. Dentre os jovens que se dedicam hoje, em São Paulo, a intervenções de rua, Thiago se destaca por sua decisão obstinada e corajosa por enfrentar delicadas questões identitárias. Destaca-se também por muitas qualidades que engrandecem e potencializam o natural talento artístico de que é dotado: capacidade de comunicação, independência, paixão, constância. É um artista consciente da realidade histórica na qual está inserido e da enorme responsabilidade implícita em toda e qualquer intervenção no espaço público. Sua postura e ação são plenas de inquietação e dignidade.

Mini bio
Thiago Vaz é artista visual e arte-educador. Em seu trabalho existe um recorte especial sobre a arte urbana: graffiti e street art; pesquisa sobre os modos de ocupação com arte nos espaços públicos: zonas e territórios. O artista também explora outras mídias e suportes diversos, como pintura e gravura; arte digital, site especific e interferências espaciais. Possui formação em comunicação social pela Faculdade Editora Nacional (FAENAC, de São Caetano do Sul, concluída em 2008) e Residências artísticas, como no ateliê Amarelinho, São Paulo, Brasil, 2014, e no Salzant Artistic Residence, Linz, Áustria, 2015.
Vaz trabalha com artes visuais desde 2001 e ao longo da sua trajetória participou de exposições coletivas e realizou intervenções artísticas em diversas cidades brasileiras, com o apoio de importantes instituições, como o SESC São Paulo (2010, 2012), Centro Cultural Banco do Brasil — CCBB São Paulo (2010); Museu Afro Brasil Emanuel Araújo (2014); e realizou exposição individual na Casa do Olhar Luis Sacilotto (2018). No exterior, Vaz participou da exposição coletiva “Hohenrausch”, no OO Kultur Quartier (Áustria, 2015), onde também realizou a pintura mural no projeto Mural Harbor (Áustria, 2017).
O artista recebeu o prêmio de trajetória artística Lei Aldir Blanc 2020, na cidade de Ribeirão Pires; É colaborador em diversos projetos culturais e sociais em parcerias com ONG e coletivos, como a ONG Ação Educativa, Coletivo Graffiti com Pipoca, Espaço Cultural JAMAC e Coletivo L.E.I.A. – Aquarela com Grafite.
